Etapas da Revolução Francesa
Depois da Queda da Bastilha, o
processo de revolução espalhou-se pela França e estendeu-se pelos dez anos
seguintes, sendo somente encerrado quando Napoleão Bonaparte assumiu o poder do
país por meio do Golpe de 18 de Brumário. A Revolução Francesa pode ser
dividida dentro do período das instituições políticas que atuaram no país:
Assembleia Nacional Constituinte
e Assembleia Legislativa (1789-1792);
Convenção Nacional (1792-1795);
Diretório (1795-1799).
• Assembleia
Constituinte e Assembleia Legislativa
Trata-se do período inicial da
Revolução Francesa, o qual foi marcado por grandes transformações, por meio da
redação de uma Constituição para a França e pela atuação da Assembleia
Legislativa. Após a Queda da Bastilha, muitos camponeses, no interior do país,
temendo ficar sem alimentos e muito endividados, partiram para o ataque.
Esse foi o período do Grande
Medo, que ocorreu entre julho e agosto de 1789, e durante o qual camponeses
começaram a atacar aristocratas e suas propriedades. Assim, residências da
nobreza foram invadidas, saqueadas e destruídas, cartórios foram atacados para
que os títulos de propriedade fossem destruídos etc. Os camponeses exigiam o
fim de alguns impostos e maior acesso aos alimentos.
A burguesia francesa, temendo
esse ímpeto popular, resolveu tomar decisões que aceleraram as transformações
na França e que tinham como objetivo principal controlar o povo. Assim, no dia
4 de agosto de 1789, foi decretada a abolição dos direitos feudais que existiam
na França. No mesmo mês, foi convocada a redação da Constituição e foi
anunciada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
No dia 4 de agosto de 1789, os
parlamentares da Assembleia Constituinte aboliram os privilégios oriundos do
Antigo Regime da França.
Esse foi um dos documentos mais
importantes da Revolução Francesa e, na teoria, decretava que todos os seres
humanos eram iguais perante a lei. No entanto, é importante considerar que essa
ideia de igualdade, para os liberais do século XVIII, estendia-se apenas ao
âmbito jurídico e não alcançava uma dimensão democratizante como o nome do
documento pode sugerir.
Nesse contexto de radicalização
popular, a classe média e a burguesia francesa assumiram posições conservadoras
para controlar a ação do povo. A nobreza e o clero, por sua vez, começaram a
fugir da França, pois temiam tudo que acontecia no país. Essa aristocracia
francesa começou a ser abrigada nas nações absolutistas vizinhas, sobretudo na
Áustria e Prússia. Essa nobreza também começou a planejar a contrarrevolução,
com o objetivo de reverter tudo que acontecia na França.
Até mesmo o rei francês,
sentindo-se ameaçado, organizou sua fuga da França, em 1791, com sua esposa,
Maria Antonieta. Luís XVI, porém, foi reconhecido quando estava em Varennes,
próximo à fronteira com a França, e reconduzido para a Paris. Antes disso, ele
e sua esposa tinham sido obrigados a abandonarem o Palácio de Versalhes e a
instalarem-se no Palácio de Tulherias.
Além de atacar os privilégios da
nobreza, a burguesia francesa também se voltou contra o clero. Isso aconteceu
por meio da Constituição Civil do Clero, aprovada em 1790. Essa medida legal
promoveu a separação do Estado e da Igreja e tentou colocar a segunda sob a
autoridade do primeiro, uma vez que os padres tinham de jurar obediência ao
Estado. Essa medida e outras tomadas contra o clero lançaram-no para o esforço
contrarrevolucionário.
Os trabalhos da Assembleia
Nacional Constituinte estenderam-se até 1791, quando, finalmente, foi
promulgada a Constituição da França. No texto da Constituição, determinava-se o
fim da monarquia absoluta e estipulava-se que a França era transformada em uma
monarquia constitucional. Isso decepcionou uma ala mais popular da revolução
que almejava que o país fosse transformado em uma república democrática.
A atuação conservadora da
burguesia francesa à frente da Assembleia Constituinte é exemplificada pelo
historiador Eric Hobsbawm no seguinte trecho que aborda os objetivos econômicos
e políticos dessa classe:
Economicamente as perspectivas da
Assembleia Constituinte eram inteiramente liberais: sua política em relação aos
camponeses era o cerco das terras comuns e o incentivo aos empresários rurais;
para a classe trabalhadora, a interdição dos sindicatos; para os pequenos
artesãos, a abolição dos grêmios e corporações […]. A Constituição de 1791
rechaçou a democracia excessiva através de um sistema de monarquia
constitucional baseada em um direito de voto censitário dos “cidadãos ativos”
reconhecidamente bastante amplo.
Com a Constituição de 1791, a
Assembleia Constituinte encerrou seu período de funcionamento e foi substituída
pela Assembleia Legislativa. Nessa assembleia, consolidaram-se dois grupos
políticos que possuíam visões bastante diferentes a respeito dos rumos da
revolução. Os girondinos eram parte da burguesia que acreditava que as grandes
mudanças necessárias já tinham acontecido e, por isso, possuíam uma visão mais
conservadora. Já os jacobinos eram membros da burguesia que acreditavam que as
mudanças deveriam ser ainda mais radicais do que as que estavam em curso.
A primeira reunião da Assembleia
Legislativa iniciou-se em 8 de outubro de 1791, e a atuação dessa instituição
durou até 7 de setembro de 1792. Nesse período, a França teve de lidar com a
ação estrangeira contra a revolução, pois Áustria e Prússia, liderando os
esforços contrarrevolucionários, invadiram o país e forçaram a França a
declarar guerra a ambos.
A ação de Áustria e Prússia
contra a França deveu-se pelo fato de que o processo revolucionário francês era
visto como grande ameaça por todas as nações absolutistas da Europa. Com a
guerra, os jacobinos declararam “pátria em perigo”, uma vez que as tropas
estrangeiras aproximavam-se de Paris, e a população francesa começava a se
armar para resistir.
A guerra também contribuiu para a
radicalização da revolução e deu início a uma fase conhecida como Terror. Esse
clima de guerra fez com que os jacobinos e os sans-culottes tomassem a frente
da revolução, e, com isso, a monarquia francesa acabou sendo derrubada pelos
sans-culottes, instaurando-se a República em 1792.